QUEM CRIOU A TESE DE ALIENAÇÃO PARENTAL - Pontos de vista do Dr. Richard Gardner

Pontos de vista do Dr. Richard Gardner sobre pedofilia e abuso sexual infantil (fontes científicas)

Teorias de alienação parental, implantação de falsas memórias...como foi desenvolvido tudo isto? Qual a credibilidade real? Richard A. Gardn...

terça-feira, 3 de maio de 2016

Depoimento recebido (inocentessemsilencio@gmail.com...caso sinta necessidade de enviar o seu):

"Há muito tempo eu pensava em contribuir em algum blog específico para as vítimas de abuso infantil (especialmente nos casos de abusos sexuais, mesmo sem excluir as outras formas), pensando também nos seus familiares que tentam protegê-las. Porém, aviso desde já que esse relato não será num estilo técnico nem literário, e sim no estilo de alguém que vivenciou abusos...diretamente. As impressões dessa pessoa não só em relação à própria experiência, mas a de todas as outras que foi percebendo. Sim, essa pessoa sou eu.

Menina entre 9-10 anos, ingênua como eram, em geral, as crianças nos anos 80; ingênua como são, ainda, tantas outras hoje em dia...ao menos quando se trata do mal feito a elas pelas mãos de pessoas que esperavam somente o bem. Não era parente direto, mas era alguém que freqüentava minha casa e inclusive chegou a residir lá por algum tempo, ou seja: não foi "somente" um abuso. Alguém que eu confiava (e por que não confiaria? Se alguém da casa que eu amava tanto confiou nele, se tinha livre acesso à residência, e nem meus pais se opunham, o que eu poderia temer?..) e achava legal, que trazia filmes e discos bons, que era divertido e sempre soltando piadinhas...depois fui percebendo a outra face dessa pessoa; infelizmente, quem talvez pudesse ter percebido primeiro, percebeu tarde demais, e aí a mim somaram-se como vítimas, também, amiga, prima (e trocávamos confidências sobre isso, finalmente, chegando até mesmo a bolar um "plano" para entregar o sujeito à polícia- que nunca pudemos levar adiante), além de todas as outras que desconheço, mas que com certeza existem. Tive uma educação um tanto conservadora, daquelas em que se vigiam até mesmo brincadeiras infantis - pra ninguém brincar de médico, acho! Isso que até hoje me surpreende: como acreditaram que era meio "arriscado" interagir com crianças da mesma faixa etária, mas nem desconfiaram de adulto tão próximo e tão nocivo. A família dessa pessoa - o molestador- era evangélica, assim ele foi educado. Não estou criticando quaisquer religiões aqui, longe disso: apenas demonstrando que pertencer a uma não é, não foi e nunca será atestado de bom caráter. Se fosse assim, não haveriam casos de padres e pastores envolvidos em abusos, alguns deles famosos e bastante polêmicos.

Pois bem, esse indivíduo cometeu seus abusos em várias ocasiões, bastava apenas que tivesse chances de estar a só comigo em um mesmo ambiente. Deixem-me falar das reações de uma criança a esse tipo de coisa, ao menos do que foram as minhas: a primeira reação é de INCERTEZA. Eu não sabia a diferença entre "toque ruim" e "toque bom": naquele tempo não havia esse tipo de ensinamento, eu nunca havia ouvido falar que um adulto CONHECIDO poderia se aproximar de crianças com intenções sexuais, para mim aquilo era coisa de estranhos oferecendo doces às crianças, meio escondidos nas esquinas. Caso tivesse aparecido algum desses, provavelmente eu gritaria bem alto, correria, chutaria o saco dele.,,,mesmo sem saber exatamente o que ele poderia fazer comigo, caso me subjugasse! Mas, as crianças eram alertadas sobre isso no velho estilo bem resumido: "não fale com estranhos, não aceite nada deles". Então, quando alguém muito próximo toca uma criança de modo, digamos, diferente, a primeira reação dela é estranhar, ficar bastante confusa sobre aquilo, se ela pensa que só pode esperar isso de desconhecidos (e se até mesmo essa informação é bastante limitada). E o molestador não fará nada para dissipar essa confusão, ao contrário: é bastante conveniente para ele que a criança não saiba que aquilo que ele faz é algo ruim e anormal, óbvio. E, se ela percebe, ainda há outras estratégias de manipulação para ele: dizer que compartilham um "segredo", baseado no laço de amizade; ameaçar de forma sutil (ou não!); fingir que aquilo é normal e não há nada de errado; fazer chantagem emocional, falando como outro familiar ficaria "triste"ou "aborrecido" se ela contasse. Molestadores não sentem culpa, não sentem empatia alguma pela vítima: eles querem continuar. E farão isso, sempre que tiverem chances...


As reações seguintes da vítima são de medo e culpa (por achar que de alguma forma poderia ter impedido, assumindo uma cruel responsabilidade sobre o fato, com tão pouca idade), ocasionalmente muita raiva também....lembro que comecei a me esquivar o máximo possível, até mesmo cheguei a fingir que estava doente e passando mal sempre que o sujeito estava por perto, na tentativa de barrar sua aproximação. Uma das vezes, tive que pegar carona com ele, pois já era noite e eu precisava voltar à minha casa, não havia mais ninguém para me levar, e, afinal de contas, ninguém sabia. Lembro de ter ido completamente colada à porta do carro, pensando:" se ele encostar em mim, eu pulo"! Eu estava longe do meu local de moradia, em casa de outro parente, e o caminho de volta para casa era um pouco longo: a estrada se estendia à minha frente, a luz dos faróis iluminando, e o sujeito tentava puxar assuntos triviais, fingindo não perceber a minha atitude completamente acuada, respondendo com monossílabos. Ele chegou a estender a mão para tocar minha perna, eu me esquivei e me aproximei ainda mais da porta. Então ele fez a pergunta que talvez tenha sido das mais odiosas que ouvi na vida: perguntou se eu me incomodava quando ele fazia "aqueles carinhos". Eu não respondi, apenas assenti com a cabeça. Ele permaneceu em silêncio, mas, devo dizer: não detectei arrependimento algum ali, apenas receio de ser descoberto.

Não sei dizer ao certo se ele tentou repetir abusos comigo depois dessa ocasião, muita coisa a névoa benéfica da minha memória bloqueou...e assim pude viver minha vida sem ainda maiores transtornos emocionais, sem jamais precisar apelar para medicamentos, etc. Mas sei que outras pessoas têm reações diferentes, e muitas vezes até trágicas. Só contei a alguém muito próximo, parente, quando já tinha uns 14 anos (essa pessoa estava no meu âmbito familiar entre os meus 9-10 anos; depois, felizmente, vi poucas vezes e com gente ao redor), e a pessoa ficou chocada e sem compreender porque não contei antes. Na época, pela imaturidade, eu não compreendia toda a extensão do que ocorria comigo: ao perceber o mal eu apenas me esquivei o máximo. Eu não pensei que, com o meu silêncio, ele continuaria livre para praticar seu mal com outros inocentes, eu só imaginei que seria uma dor muito grande para a minha família, uma vergonha geral, e que talvez eu não tivesse esse direito. Que eu poderia agüentar a dor sozinha. Que poderiam, além de odiá-lo (isso teria me agradado, porque minha revolta silenciosa contra ele era imensa), me culpar de alguma forma também, mudar os sentimentos comigo, me rejeitarem, não entenderem meu medo e minha inércia. Mesmo eu sabendo a agonia de conviver com a proximidade daquela pessoa, e evitá-la em todo momento possível, eu ainda pensava que poderiam não me entender, eu pensava - sem crer de fato naquilo, mas eu queria alguma esperança de não ser tão hedionda a atitude dele, de que o mundo não fosse um lugar realmente tão arriscado para crianças- que talvez fosse imaginação minha, que não era exatamente por mal, que era engano meu e ele só estava sendo "afetuoso". Mais adiante, eu refleti que não havia espaço para essa dúvida. Era um ser maléfico, sim, como todo pedófilo (NÃO SÃO DOENTES, SÃO MALÉFICOS), e o que lamento hoje é ter ficado em silêncio, assim como os poucos adultos que souberam também ficaram, permitindo assim que ele tenha prejudicado outras crianças...certamente ele fez isso.

E então, tantos anos depois (quase 40!), eu paro e penso como isso tudo seria mil vezes pior se fosse meu pai o abusador. Tive um pai dedicado e presente, e creio que assim seja boa parte deles; porém, sei de outros(as) que não tiveram...que tiveram monstros disfarçados de pais, que não poderiam gritar por eles quanto têm pesadelos, já que eles eram parte dos pesadelos! Eu me coloco no lugar de cada uma dessas crianças que passaram e passam por isso agora, e também das mães que, após uma descoberta dessas, têm como primeira providência IMPEDIR QUE CONTINUE ACONTECENDO. Ao tentarem isto, de acordo com esses pais abusadores "injustiçados", elas viram..."alienadoras"! Para eles, para todos que conhecem aqueles cidadãos de bem, trabalhadores, dedicados às suas famílias, ou ao que restou delas (os filhos que buscam em visitas, eventuais ou constantes), às vezes assíduos participantes de programações religiosas, enfim..membros respeitados em suas comunidades. Aqueles caras nunca fariam isto, não é mesmo?..Afinal, apenas estranhos abusam de crianças...esses caras de aparência estranha e doentia que saem abordando crianças desacompanhadas, oferecendo doces...como pode uma mãe impedir o pai de conviver com os filhos, alegando algo tão monstruoso, tão distante da realidade das famílias brasileiras?.Não existe abuso, 50% a 80% das denúncias são fictícias e feitas somente para ferir o ex e afastá-lo da prole...eis o elevado percentual de mães tão cruéis que destruiriam o equilíbrio psicológico de seus filhos somente por "não aceitarem a separação" (não vem ao caso se foram elas a deixarem o lar quando descobriram os abusos, não precisa mencionar isso....), ...BULLSHIT! O que existe, no Brasil, é uma grande, imensa, gigante síndrome de avestruz nessas questões, um impulso vergonhoso que permeia a sociedade de, embora sabendo que algo hediondo acontece, esconder a cabeça na terra e fingir que "é exagero". Embora os pais e mães dignos saibam que "acontece até mesmo nas melhores famílias", ainda parecem agir no estilo "não é problema meu, deixa quieto", ou "fulano nunca faria isso, não vivo com ele mas conheço seu caráter". Mas uma mãe que denuncia abusos, agora, é ferozmente atacada por determinados grupos...até mesmo antes que a criança passe por qualquer avaliação psicossocial (que, convenhamos, não necessariamente irá detectar os abusos), aparentemente é mais importante assegurar ao pai SUSPEITO DE ABUSO o acesso àquela criança, do que assegurar o devido acompanhamento profissional para verificar, primeiro, o que de fato ocorreu.

Este meu relato é um alerta para que todos que ainda hesitam em proteger quem quebra o silêncio nesses casos. Para que nenhuma criança mais sinta que deve se calar para "não magoar" alguém, para que nenhuma mãe ou familiar próximo que saiba tenha mais receio em denunciar esses monstros, amordaçados pelo recente mito das "falsas denúncias". Para que os psicólogos e psiquiatras brasileiros não cedam sua honra, profissionalismo e ética a uma teoria desenvolvida pela mente de alguém que se dedicava a defender pais acusados de abuso nos tribunais americanos; que, em vez de lutar por condições dignas de avaliação infantil, lutava para mostrar que a primeira suspeita de todas é de que a criança sofreu uma "lavagem cerebral" (normalmente da mãe!) naquilo que ela relata. Um homem que tratou em, sua obra nada respaldada cientificamente (até a editora que publicava os livros era de sua propriedade!), de naturalizar coisas como incesto e abuso sexual infantil de forma hedionda, e inaceitável para alguém que se diz profissional.

Não deixem as crianças sozinhas nessa escuridão interior! Acendam rápido a luz."


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